quinta-feira, 25 de julho de 2013


                              A importância da " Oração".





As palavras “Admoesto-te, pois, antes de tudo” indicam que Paulo tem algumas coisas importantes a falar no seguimento da Epístola. Como já vimos no cap. 1, ele tratou do perigo da doutrina falsa e nos capítulos seguintes tratará de questões nas quais a Igreja deverá agir de acordo com a sã doutrina. Paulo tinha muitas coisas a dizer para Timóteo, mas a ênfase que ele dá é à oração. Ele está dizendo: “Antes de eu falar sobre os deveres das mulheres, falo-te sobre a oração. Antes de eu falar sobre os bispos e os diáconos, falo-te sobre a oração.” E assim por diante. Antes de tudo, vem a oração. Isso é muito relevante, pois se o apóstolo agora está ensinando como deve ser a conduta do cristão (homens e mulheres) na igreja, ele mostra que esta conduta deve ser, em primeiro lugar, totalmente dependente da vontade divina. Não existe nada melhor que a oração para expressar nossa dependência de Deus.
Além de destacar a importância da oração, este versículo também nos apresenta a necessidade de orarmos sempre. Uma igreja torna-se vulnerável quando deixa de orar. O verbo “façam” (ou “use” na ARA) está no presente, indicando que a igreja deve orar sempre, com perseverança. A oração conjunta e perseverante há de manter o corpo em contato com a Cabeça. Muito mais importante do que a atividade é a oração (At 6:4). Entretanto, havendo o exercício da oração constante, haverá conseqüentemente atividade frutífera, acompanhada da presença e poder divinos. Em vista disto, quão triste quando a reunião de oração de uma igreja local é pouco freqüentada! Se entendemos que “Deus dá o crescimento”, vamos perceber que crescimento será resultado de oração, e vamos ser zelosos em orar.
Uma sugestão prática: sempre que possível, é melhor ter uma noite separada só para oração toda semana. Muitas vezes a reunião semanal de oração nas igrejas locais divide o tempo com uma reunião para ensino; tendo uma noite só para oração, há mais liberdade e tempo para os irmãos orarem, e é uma forma de mostrar que valorizamos a oração. Existem, é claro, outras formas. Várias igrejas têm o costume de ter um tempo de oração num cômodo separado nos minutos que precedem a reunião para a pregação do Evangelho, ou separam uma semana por mês para ter reuniões de oração todas as noites. Não estamos sugerindo que todas as igrejas sigam o mesmo modelo quanto aos dias e horários de reuniões; apenas queremos destacar a importância de dar bastante tempo para a oração.

                                           Os elementos da oração

Há quatro palavras diferentes usadas aqui para destacar elementos diferentes da oração, para as quais sugerimos as seguinte definições:
  • Deprecações / súplicas — Um pedido específico;
  • Orações — Um pedido mais abrangente;
  • Intercessões — “Conversar” com o Senhor. J. Allen, no Comentário Ritchie vol. 12, explica que a “palavra em si mesma não indica necessariamente, como em português, um interceder em favor dos outros … indica um esforço para buscar a presença de Deus”;
  • Ações de graças — Agradecer.
Pedir pela restauração (física ou espiritual) do irmão Fulano seria “deprecação”; pedir pela preservação da igreja contra os ataques do inimigo seria “oração”; esforçar-se em oração por alguma causa seria “intercessão”; e agradecer pelas orações respondidas seria “ações de graça”.
As várias expressões que descrevem a oração no v. 1 mostram-nos que a oração deve ser feita inteligentemente, com entendimento. Devemos orar com o espírito, mas também orar com o entendimento (I Co 14:15). Isto é, nossas orações não serão apenas um derramar das nossas almas perante o Senhor, mas manifestarão uma atitude inteligente da nossa parte. Serão sinceras, partindo do coração, mas inteligentes, controladas pela mente.
Isto aplica-se especialmente às orações públicas, que são o assunto deste trecho. Nas orações particulares devemos nos estender o máximo possível, e teremos liberdade para mencionar qualquer coisa perante o Senhor. Nas reuniões de oração da igreja, porém, oraremos com o entendimento. Há certos assuntos que não devem ser mencionados nas orações públicas, e convém sermos específicos, objetivos, claros, e breves, a fim de que todos os crentes saibam sobre o que estamos orando e possam dizer o amém. É melhor levantar duas ou três vezes numa reunião de oração, cada vez com um objetivo específico no coração, fazendo orações breves e específicas (poucos minutos cada uma) do que orar apenas uma vez (por 10 ou 15 minutos) e pedindo por tudo que vier à mente. É muito fácil cairmos na rotina de orar com um tipo de “reza”, pedido sempre as mesmas coisas. Devemos evitar isto a todo custo.

                                           Alcance da oração

Tendo nos mostrado a importância da oração (v. 1a) e a necessidade de orarmos com inteligência (v. 1b), agora vemos o alcance das nossas orações. Por quem devemos orar? Só pelos irmãos, ou só pelos nossos conhecidos? Não; devemos orar “por todos os homens”, sem qualquer distinção. Isto não quer dizer que vamos mencionar, um a um, todos os habitantes do planeta, nem que vamos orar, individualmente, por todos aqueles que conhecemos; isto seria impossível. Mas quer dizer que não vamos deixar de orar, conscientemente, por nenhum ser humano. Se houver qualquer pessoa sobre a face da Terra da qual eu disser: “Não orarei por este”, estou em contradição com o ensino deste versículo. Devemos lembrar de Samuel, que ensinou-nos que deixar de orar por alguém é pecar contra o Senhor (I Sm 12:23). Devemos ter a preocupação de orar pelos nossos familiares, pelos nossos amigos, pelos nossos irmãos em Cristo, pelos nossos inimigos, pelas autoridades, etc., etc. — enfim, por todos os homens!
O NT nunca impõe à igreja a tarefa de ajudar o mundo com obras sociais e filantrópicas, mas sim, orar pelo mundo e evangelizá-lo. As orações na igreja não devem limitar-se às nossas necessidades pessoais, ou às da igreja, mas devem ter em vista, também, o mundo. Orando pelas autoridades estaremos invocando o bem para o mundo. A melhor maneira da igreja participar da política deste mundo é orando pelas autoridades constituídas, ou a serem constituídas. Parece que este é um aspecto da oração que é um pouco negligenciado, mas sem dúvida é importante.



                                            Resultado da oração

A seguir, temos o resultado deste exercício da oração: teremos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade. É importante enfatizar que isto é o resultado do exercício da oração, e não o seu propósito. O ensino destes versículos é que devemos orar pela salvação das autoridades (recebendo como conseqüência deste exercício uma consciência tranqüila), e não que devemos orar por uma vida livre de perseguições. Veja, abaixo, as razões para esta afirmação.
J. Allen, no Comentário Ritchie vol. 12, diz que tudo depende do significado da conjunção traduzida “para que”, que é hina no grego. Ela pode indicar, de acordo com o Léxico do NT Grego/Português publicado pela Edições Vida Nova, “propósito, alvo, objetivo, a fim de que, para que” ou “resultado”. Seu primeiro significado é mais conhecido; quanto ao segundo, vemos um exemplo claro em Jo 9:2: “Quem pecou, este ou seus pais, para que (hina) nascesse cego?” Aqui vemos que nascer cego não era o propósito ou alvo do suposto pecado dos pais daquele homem, mas sim um possível resultado. Outro exemplo deste uso da conjunção é Gl 5:17.
Sugerimos que, aqui em I Tm 2, o sentido de hina é “resultado”, devido aos seguintes pontos:
  • Oramos por homens (v.1), não por condições (favoráveis ou desfavoráveis);
  • O v. seguinte diz que “isto é bom … Deus … quer que todos se salvem”. O contexto portanto indica orações pelos reis etc., pedindo a Deus pela salvação deles;
  • Outras Escrituras confirmam que nosso alvo não é uma vida tranquila, livre de perseguição, mas sim a salvação dos incrédulos. Veja At 4:29, notando o contexto. Estes, perseguidos, não pediram que o governo mudasse de atitude, mas sim, que eles tivessem ousadia para falar — isto é, para que homens sejam salvos. Se o Senhor disse: “No mundo tereis tribulações”, será que podemos pedir condições para termos uma vida tranquila?
Sugerioms, então, que devemos orar pela salvação de todos (incluindo autoridades), e isto produz dois resultados:
  • Agrada a Deus (“isto é bom e agradável diante de Deus”);
  • Dá-nos uma vida quieta e sossegada (não a salvação deles, mas o simples fato de orarmos por eles nos deixa em paz com Deus e nossas consciências).
Talvez a extensão do v. 2 confunde um pouco esta interpretação. Em algumas traduções, parece que o que agrada a Deus é uma vida quieta e sossegada, e não a oração. Fica mais fácil seguir o raciocínio se colocarmos as frases secundárias entre parênteses:
“Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens (pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade) porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade”.



                                     Devemos orar por salvação?

Alguém talvez pergunta: mas por que orar pela salvação dos incrédulos? Sabemos que Deus quer salvá-los, e sabemos que Deus não os forçará a crer; então por que orar por eles? A salvação não depende da decisão deles, usando seu “livre-arbítrio”? Por que pedir a Deus por algo que depende do homem?
Há duas respostas a esta pergunta:
  • Em primeiro lugar, apesar de o Senhor afirmar que nosso Pai sabe do que precisamos antes que nós o pedimos (Mt 6:8), é agradável a Deus ver Sua igreja e Seu povo compartilhando os Seus pensamentos e propósitos divinos. O incrédulo não consegue entender esta aparente contradição: se Deus já sabe o que precisamos, pra que pedir? Ele sabe sim, mas Ele quer ver em nós a preocupação com coisas espirituais das quais precisamos. Ele tem prazer em nos dar o que precisamos, mas tem igualmente prazer em nos ver aproximando-se dEle para pedir aquilo que Ele já sabe que precisamos. Qualquer pai ou mãe sabe o que é este sentimento. A exortação bíblica é: “Pedi, e dar-se-vos-á” (Mt 7:7). Portanto, quando pregamos o Evangelho mostramos nosso exercício físico para cumprir o propósito divino na salvação das almas; quando oramos, mostramos o exercício do nosso coração e da nossa alma no mesmo objetivo. Convém lembrar que o primeiro “exercício” sem o segundo é um exercício inútil; o segundo sem o primeiro é um exercício hipócrita.
  • Além disto, não é correto dizer que a salvação depende exclusivamente do homem; Deus não pode ser deixado de lado! Foi provavelmente Spurgeon quem disse: “Eu prego como um Arminianista, mas oro como um Calvinista”. Quer dizer, ele reconhecia que o pecador tem uma grande responsabilidade quanto à salvação, e que Deus jamais forçará alguém a crer contra a sua vontade, mas também entendia que a salvação não é algo que está exclusivamente nas mãos do pecador. Não é que Deus fez a Sua parte e agora está passivamente observando o desenrolar dos fatos; Deus é quem salva, por isso oramos diariamente pelos nossos filhos e amados. Oramos para que Deus possa salvá-los, mas reconhecemos, é claro, que só serão salvos se eles próprios crerem. Ou seja: não tiramos Deus da equação (como Armino), nem tiramos o homem da equação (como Calvino). Seguindo a lógica até a última instância concordaremos ou com Armino (se o homem precisa apenas crer numa obra já completamente feita, então Deus nem entra na equação) ou com Calvino (se o homem está morto em seus pecados, e só Deus pode salvá-lo, então o homem nem entra na equação). Mas não caímos nestes erros; cremos quando a Bíblia diz que quem é salvo foi escolhido por Deus, e cremos quando ela afirma que Deus quer que todos sejam salvos. Por isso, como disse Spurgeon, pregamos como se tudo dependesse do homem (e, de certa forma, depende), e oramos como se tudo dependesse de Deus (e de certa forma, depende).

                                           O incentivo para oração

Agora, no v. 3, temos um sublime incentivo neste exercício da oração. Já aprendemos para que orar (para a salvação de pecadores); agora aprendemos por que orar: “Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador”. As mesmas palavras ocorrem também no cap. 5:4, ligadas com o testemunho das viúvas.
A razão deste agrado divino vemos no v. 4: Deus “quer que todos os homens se salvem …” É agradável ao Senhor ver sua Igreja compartilhando os Seus pensamentos e propósitos divinos. Ele quer que todos os homens sejam salvos, e Ele tem prazer em nos ver repartindo este sentimento, e orando pela salvação dos incrédulos.
Temos um contraste com tudo isso na experiência de Jonas. Ele, enfim, foi e pregou em Nínive. Mas no cap. 4 lemos: “desgostou-se Jonas extremamente disso, e ficou todo ressentido” (v. 1). Naquele capítulo o Senhor ensina a Jonas sobre os Seus sentimentos divinos de amor e misericórdia com os pecadores em Nínive, e repreende Jonas por não compartilhar esses sentimentos.
Que tenhamos a mesma compaixão que teve nosso Senhor, sabendo que com isto Deus se agrada.
Algumas expressões nestes versículos merecem alguns comentários a mais:

 

                                         “Nosso Salvador“

Ao usar estas palavras o Espírito Santo nos mostra que o propósito e a provisão da salvação vem de Deus, e lembra-nos que estamos orando por salvação para um Deus que já mostrou-Se pronto e capaz para salvar, pois Ele é nosso Salvador. Não é o Juiz que nos manda orar pela salvação de todos os homens; é nosso Salvador, que quer que todos sejam salvos.
Três das 19 vezes em que Deus é chamado “Salvador” no NT estão em I Timóteo, e três em Tito. Como foi sugerido no estudo de I Tm 1:1, há uma relação entre estas ocorrências, que é mais uma das inúmeras provas da inspiração perfeita da Bíblia:
  • O mandado de Deus, nosso Salvador (1:1 e Tt 1:3), que constituiu Paulo apóstolo (I Tm 1:1) e confiou-lhe a pregação (Tt 1:3);
  • A doutrina de Deus, nosso Salvador (2:3 e Tt 2:10), que nos manda orar (I Tm 2:3) e sermos submissos (Tt 2:10);
  • A benignidade de Deus, nosso Salvador, que é o Salvador de todos os homens (I Tm 4:10), salvando-nos “segundo a Sua misericórdia” (Tt 3:4).
Quão precioso lembrar que Deus é nosso Salvador!



                          “Pleno conhecimento da verdade“





Paulo refere-se à “verdade” quatro vezes nesta carta (2:7; 3:15; 4:3; 6:5), e duas vezes em sua segunda carta (2:15; 3:8) e várias outras vezes em outras epístolas. Na maioria das citações ele refere-se ao Evangelho. O que ele (Paulo) quer dizer neste versículo? Será que “vir ao conhecimento da verdade” é algo mais do que ser salvo? J. Allen, no Comentário Ritchie vol. 12, diz que o fato de “verdade” não ser precedido de um artigo (no original) indica que trata-se da qualidade ou essência da verdade, não aspectos individuais desta verdade. Isto é, é o desejo de Deus que o pecador deixe a esfera da mentira e venha para a esfera da verdade.
Isto não quer dizer que, ao se converter, o cristão tem “pleno conhecimento” de tudo o que se pode saber. Este pleno conhecimento, este “saber tudo”, pode se referir à nossa posição em Cristo Jesus, “em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (Cl.2:3). Ao entrarmos nesta esfera da “verdade” pela experiência da Salvação, haverá ainda terreno para nos inteirarmos cada vez mais dela. “Pleno conhecimento” significa que a Salvação que recebemos é completa, totalmente esclarecedora quanto aos propósitos divinos. Mas cremos que durante toda a eternidade vamos penetrar ainda mais nessa “verdade”.



                         A base do direito de oração




O Mediador



Já temos pensado na importância de orar segundo a mente divina na questão da salvação dos homens. Os versículos seguintes mostram-nos um pouco da profundidade deste propósito divino de salvar almas.
O v. 5 é profundo. Temos nele o mistério do Deus que Se fez carne. Notemos a ordem: todos os homens, um só Deus, um só Mediador entre Deus e os homens. De um lado, todos os homens em seus pecados; de outro lado um Deus santo, cuja justiça foi ofendida. Entre os dois interpõe-se um capaz de representar ambos os lados numa negociação de paz. Para isso Ele precisava ser Deus, e precisava ser homem. A salvação do homem perdido exigia que o Mediador tivesse a natureza e atributos tanto dAquele para quem age, como também participasse da natureza daqueles por quem age (fora o pecado); somente possuindo divindade e humanidade era possível para Ele abranger tanto os requisitos do primeiro como as necessidades do segundo.
Além disso, os requisitos e as necessidades somente podiam ser atendidos por Um que, tendo Ele próprio evidenciado estar isento de pecado, pudesse oferecer-se a Si mesmo como sacrifício expiatório por parte dos homens. Singularidade é o que Paulo enfatiza em suas palavras. Singularidade de um Deus, singularidade de um Mediador. Singularidade se vê também na obra redentora: “O qual se deu a Si mesmo em preço de redenção por todos”. Nunca houve um Mediador assim! Um que não apenas pleiteasse a causa humana, mas que tomasse Ele mesmo o lugar do pecador.
Note que há um só mediador — só o Senhor Jesus tem a “credencial” do Pai para poder representá-Lo a nós e nos apresentar a Ele. Ninguém mais pode fazer isso. Quem se propõe fazer isso é mentiroso, e quem confiar em outro estará sendo enganado. Este versículo é uma ótima referência contra a mariolatria e os pedidos que são feitos aos santos.
Note a palavra “homem” — a natureza humana era necessária para Seu oficio medianeiro, porque assim, por Sua própria experiência, Ele sabe quais são os sofrimentos e as fraquezas existentes no homem. “E o Verbo Se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1:14). O Senhor Jesus tornou-se homem, mas nunca abriu mão de Sua divindade. Jamais poderia ter sido Mediador entre Deus e os homens se não fosse Deus e Homem.
Nunca é demais enfatizar a perfeita divindade do Homem Jesus, e a perfeita humanidade do Deus Cristo. Deus foi deitado numa manjedoura, trabalhou numa carpintaria, morreu numa cruz; há um Homem hoje assentado no trono nos céus, recebendo a adoração celeste.
Que contrastes sublimes há na Bíblia. Um Homem dormindo num barquinho, tão cansado que nem mesmo uma tempestade O acorda; na mesma hora, Deus, ainda no barquinho, Se levanta, repreende o vento e mar, e eles O obedecem! Um Homem se assenta ao lado de um poço, cansado de uma viagem; logo em seguida, Deus, ainda ao lado do poço, oferece a vida eterna a uma mulher pecadora! Diante do que não podemos entender, nos curvamos e adoramos!

A redenção



O grande assunto do v. 6 é a redenção. Aprendemos quatro verdades sobre a redenção:
  • Ela foi voluntária — “se deu a Si mesmo”, isto é, por Sua livre e espontânea vontade, por Seu grande amor e em obediência aos decretos de Deus. Isto descarta a idéia de que o Senhor Jesus é um mártir. Neste sentido, porém, como entender as palavras do Senhor em Lc 2:42: “Pai, se queres, passa de Mim este cálice…”? Uma explicação interessante é dada por C. H. Macintosh em seu livro Estudos sobre o livro de Levítico, págs.10-11: “O bendito Senhor Jesus não podia, com estrita propriedade, ser apresentado como aquele que desejava ser feito pecado — desejar sofrer a ira de Deus e ser privado da vista do Seu rosto; e, neste fato, por si só, aprendemos de maneira mais evidente, que o Holocausto não representa Cristo sobre a cruz levando o pecado, mas, sim, Cristo sobre a cruz cumprindo a vontade de Deus. Que Cristo mesmo contemplava a cruz nestes dois aspectos (holocausto e sacrifício pelo pecado) é evidente pelas Suas próprias palavras. Quando contemplou a cruz como o lugar onde foi feito pecado — quando previu os horrores que, sob este ponto de vista, ela encerrava, exclamou: 'Pai, se queres, passa de Mim este cálice' (Lc 22:42). Fugia daquilo que a Sua obra, por ter de levar sobre Si o pecado, comportava. A Sua mente santa e pura fugia ao pensamento de contato com o pecado; e o seu terno coração fugia da idéia de perder por um momento a luz do semblante de Deus. Porém a cruz tinha outro aspecto. Aparecia à vista de Cristo como uma cena em que Ele podia revelar plenamente os segredos profundos de Seu amor ao Pai — um lugar onde podia, 'de Sua própria vontade', tomar o cálice que o Pai lhe havia dado e esgotá-lo plenamente”. A morte de Cristo é vista nos dois aspectos dos sacrifícios levíticos. Quando o Senhor Jesus diz: “Passa de Mim este cálice” temos o aspecto do Sacrifício pelo Pecado; quando Ele diz: “Não se faça a Minha vontade, mas a Tua”, temos o aspecto do Holocausto.
  • Foi feita mediante um alto preço — o preço foi o Filho Unigênito do Pai. A palavra “redenção” (antilutron) é uma palavra que é usada apenas aqui no NT. Significa “dar a própria vida por” ou “em lugar de”. Aqui Paulo usa a palavra anti juntamente com a palavra “resgate”, lutron, que encontramos também em Mt 20:28 e Mc 10:45, “dar a Sua vida em resgate de muitos”. O preço pago para nossa redenção não foi prata ou ouro, mas o precioso sangue de Cristo (I Pe 1:18-19).
  • Seu alcance é universal — “por todos”. Mas como entender isto? Nem todos são resgatados, então como pode ser universal? É universal no sentido que torna possível ao mundo inteiro ser salvo. “Ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo [lit., “mas também por todo o mundo“]” (I Jo 2:2). Isto não significa que todo o mundo esteja salvo, pois há uma responsabilidade pessoal da parte do homem de aceitar a provisão divina efetuada na cruz. Pensando nisto podemos perguntar: É certo dizer ao incrédulo que Cristo morreu em lugar dele? Parece que isto não é correto — não vemos isso na pregação bíblica. Paulo disse: “Cristo morreu por nossos pecados” dirigindo-se a crentes em Cristo. Somente aquele que já serviu-se da obra consumada na cruz, e já identificou-se com o Salvador crucificado em Sua morte, pode dizer: “Cristo morreu por meus pecados”. Só é correto dizer que Cristo morreu “em lugar de” alguém que ainda não é salvo se usamos a expressão “em lugar de” no sentido de “para tornar possível a salvação de”; como 99% dos ouvintes, porém, entenderiam esta frase por “como substituto de”, é melhor não usá-la. O pecador pode raciocinar: “se Cristo morreu em meu lugar, então minha dívida já está paga, e eu já sou perdoado”, o que realmente não é verdade. Cristo é, em potencial, o Salvador do mundo, o Substituto que Deus escolheu para a salvação de todos. Ele só salva, só substitui, porém, aquele que crê. O preço que Ele pagou é suficiente (e com ampla sobra) para salvar todos, mas só os que crêem são efetivamente salvos. No instante em que o pecador crê, Deus considera a morte de Cristo como tendo valor também para aquele pecador, e ele agora pode dizer: “Cristo morreu em meu lugar, morreu pelos meus pecados, é o meu Salvador e meu Substituto”.
  • Seus efeitos são notórios — “…para servir de testemunho a seu tempo” (ou, “em tempo oportuno”, conforme o sentido do grego, idiois kairos). Há divergências entre alguns comentaristas sobre o sentido dessa frase. Alguns interpretam no sentido de que os apóstolos deram seu testemunho em sua própria época. Outros acham que significa que o Senhor Jesus deu-se a Si mesmo na hora indicada pelo plano divino. Este último ponto de vista é o apresentado por J. Allen, no Comentário Ritchie vol. 12, pág. 66: “O grande ato de sacrifício, quando Cristo se deu a Si mesmo em resgate por todos, realizou-se no tempo, no momento apropriado fixado por Deus. A palavra 'tempo' (kairos) chama a atenção para a exatidão e a conveniência do tempo, de acordo com o calendário de Deus.” Sem dúvida, a morte de Cristo foi um cumprimento daquilo que o Pai planejara, porém parece que a idéia principal aqui é que esta redenção deve ser proclamada a todos, pois o versículo seguinte diz que foi para isto (para que a redenção sirva de testemunho) que Paulo foi constituído apóstolo. Podemos aprender aqui que Deus quer que as verdades gloriosas da redenção sejam proclamadas a todos.


Paul Muhamed Alhi que a paz de Deus esteja com todos .

                                              HÁ MORTE NA PANELA  “Depois Eliseu voltou para Gilgal. Nesse tempo a fome assolava a região. ...